sábado, 31 de dezembro de 2011

MEIA-NOITE EM PARIS

Queridos:

pra terminar o ano, postarei algo sobre o genial "Meia-Noite em Paris" filme ao qual assisti no cinema com um querido amigo, Luís Henrique, e que acabei de me dar de presente como virada de fim de ano.
Simplesmente adoro "Meia-Noite em Paris" por se passar em Paris, algo óbvio (as cenas que abrem o filme são lindíssimas)... adoro a sofisticação dessa cidade. Além do mais, adoro os atores que trabalham no filme (Marion Colillard, Owen Wilson, Kathy Bates, Adrien Brody, Carla Bruni, Alison Pill) como também os diálogos, a trilha sonora e o filtro alaranjado que Allen emprega nas imagens, ou melhor, simplesmente são fantásticos...
Como acabei de reassistir ao filme estou "over the moon", "heaven, I´m in heaven..."...
E não poderia deixar de reproduzir o diálogo entre Gil (Owen Wilson) e Adriana (Marion Cotillard) que, a meu ver, melhor sintetiza um dos temas desse filme:

- Não voltemos aos anos 20.
- Do que está falando?
- Devíamos ficar aqui. É o início da Belle Époque. É o maior e mais bonito período que Paris já conheceu!
- E quanto aos anos 20 e... o Charleston, os Fitzgerald e os Hemingway? Eu adoro esses caras.
- É o presente. É... chato.
- Chato? Bem, não é meu presente. Sou de 2010.
- Como assim?
- Visitei sua época, assim como agora estamos visitando os anos 1890.
- Visitou?
- Eu tentava fugir do meu presente como você tenta fugir do seu indo para uma Idade de Ouro.
- Certamente, não pensa que os anos 20 são uma Idade de Ouro.
- Sim, para mim eles são.
- Mas eu sou dos anos 20 e digo que a Idade de Ouro é a Belle Époque.
- Olhe para esses caras. Para eles, sua Idade de Ouro foi a Renascença. Eles trocariam a Belle Époque para pintar com Ticiano e Michelangelo. E eles provavelmente achavam que estariam melhor com Kubla Khan. Está vendo? Tive um insight. É pequeno, mas explica a ansiedade no sonho que eu tive.
- Que sonho?
- Tive um sonho uma noite dessas. Foi um pesadelo. Fiquei sem Zithromax. Fui ao dentista e ele não tinha Novocain. Entende o que estou dizendo? Essa gente não tem antibiótico!
- Do que está falando?
- Adriana, se você ficar aqui e este se tornar seu presente logo você começará a imaginar que outra época era realmente a Idade de Ouro. O presente é assim. Um pouco insatisfatório porque a vida é um pouco insatisfatória. 
- Esse é o problema dos escritores. Vocês são cheios de palavras. Mas eu sou mais emotiva. Eu vou ficar e viver na época mais gloriosa de Paris. Uma vez você optou por deixar Paris e se arrependeu.
- É verdade. Foi uma decisão ruim, mas ao menos foi uma escolha. Foi uma escolha real. Esta maneira, eu acho, é uma loucura. Não funciona de verdade. Se eu quiser escrever algo de valor preciso me livrar das minha ilusões.  E que eu seria mais feliz no passado, provavelmente, é uma delas.      
- Então... adeus, Gil?
- Adeus.

É por isso que um de meus lemas é: CARPE DIEM, rs...

Como não poderia faltar, como estou nas nuvens (e tomara que fique mais nas nuvens, rs...)... muzca:







Abraço de Meia-Noite em Paris a todos e excelente 2012!!!
Marcos.  

QUANDO ENTRA O TERAPEUTA DE MARCELO RUBENS PAIVA

Como já escrevi em meu blog não sou fã do Marcelo Rubens Paiva. Todavia, a crônica que reproduzo abaixo é bem corretinha... rs...

Quando entra o terapeuta

31 de dezembro de 2011 

Marcelo Rubens Paiva - O Estado de S.Paulo
Onde você estava?, perguntou o marido.
"O que é isso, controle?"
"Curiosidade."
"Na terapia."
"Na onde?"
"Tá duvidando?"
"E desde quando você faz terapia?"
"Desde hoje", ela respondeu e começou a andar pela casa, como se não quisesse alongar a conversa.
"Que terapeuta?"
"Você não conhece."
"E como você conheceu?"
"Uma amiga indicou."
"Que amiga?"
"Você também não conhece."
Claro. O único terapeuta que ele conhecia era de cães, com quem jogava tênis no clube.
E amigas que indicam terapeutas são sempre aquelas que os maridos não conhecem. Essas intrusas que, numa conversa de banheiro, ao invés de enumerarem as novidades da indústria cosmética, sugerem terapias.
Por que têm que se meter em algo que, acreditam os maridos, pode e deve ser resolvido na intimidade do lar? Deveriam indicar um restaurante novo, um filme genial, um livro irresistível.
"Quando você começou a pensar em fazer terapia?"
"Depois das férias."
"Depois daquela viagem paradisíaca em que acampamos na praia mais limpa e deserta no raio de duzentos quilômetros, em que não choveu um dia, comemos peixes pescados na hora, não ficamos gripados, nem fomos atacados por borrachudos, bichos geográficos, águas-vivas, piranhas?!"
"Não existem piranhas no mar."
"Não mude de assunto."
Ela entrou no banheiro. Trancou. Ligou o chuveiro. Ele continuou, através da porta.
"Por quê?"
"Achei uma ideia interessante", ela disse e entrou no chuveiro.
Terapia não é para deprimidos, melancólicos, esquizofrênicos, paranoicos, insones, ansiosos, viciados, alcoólatras, dependentes químicos? Não. É também para quem acha...nteressante. E pode ser indicada por uma desconhecida num papinho em frente de um espelho de banheiro.
"Por que você não me disse antes?", perguntou assim que ela saiu enrolada numa toalha.
"Porque você sempre está ocupado, nunca repara nos meus problemas."
"Foi por isso que você foi fazer terapia?"
"É, pode ser, não tinha pensado. Será que preciso resolver isso?"
"Resolver o quê?"
"Levar isso."
"Para onde?"
"Para o meu terapeuta."
"Seu terapeuta? Conheceu o cara hoje e já considera seu?!"
Então, tudo mudou no casamento que, acreditava ele, seguia pelo caminho seguro da normalidade, dos conflitos usuais e do número de relações sexuais em acordo com as estatísticas de vida saudável das revistas femininas.
Relação nada conturbada, comparada com outras ao redor.
"Será que preciso resolver isso?" passou a ser o argumento que encerrava toda discussão ou questionamentos, até os mais simples, como por que ela preferia pizza de massa fina, filme dublado, sorvete de frutas, shoyu na salada, se vestir de preto, dormir de lado, caipirinha de saquê, carne malpassada, ler com uma lapiseira na mão, começar as revistas pelo fim e os jornais pelo caderno cultural.
Não teve jeito. Um terapeuta entrou na vida do casal. E quantas vezes ele se pegou imaginando o que conversavam, quais eram as queixas e, pior, o que ele sugeria.
Será que o desgraçado coloca minhocas na cabeça dela, sugere aventuras extraconjugais, realizações de sonhos secretos? Será que ela conta detalhes íntimos, faz comparações com outros homens? Será que arrumou um confidente, com quem ridiculariza as fraquezas inerentes em todos os maridos?
"Que linha ele segue?", perguntou um dia na fila de cinema.
"Quem, meu terapeuta?"
"Quem poderia ser?"
"Ah, sei lá..."
Sei lá? Não existem mais linhas? Seria psicanálise? Usa divã? Estão associando os sonhos à relação dela com os pais? Freudiana, junguiana, lacaniana?
"Acho que é uma linha que ele mesmo criou", foi a resposta que só piorou o tormento.
Afinal, ele confiava nas correntes mais tradiças da psicanálise, anos e anos postas em prática, pouco empíricas, mas muito pesquisadas, debatidas, cujos arquétipos praticamente viraram senso comum.
"Ah, é uma terapia alternativa?", perguntou quando se apagaram as luzes do cinema.
"Pode-se dizer que sim."
"Por quê?"
"Eu precisava resolver umas questões pessoais."
"Que questões?!"
"Coisas minhas."
"E como é? Só você fala, ele anota, ficam frente a frente, dura uma hora, analisam sonhos, você fala de mim?"
"Shhhh!", gritou o idiota da fileira de trás, já que começara o filme.
Ele passou o filme todo se perguntando que questões seriam essas e quanto ele era responsável pela novidade. Será que ela era infeliz no casamento? Será que ela tinha outro e precisava debater com um especialista? Será que ela tinha outra? Será que ela vai se apaixonar pelo terapeuta?
Decidiu, sufocado por tantas perguntas, que não deveria se meter.
Relaxa. Muita gente faz terapia. Vamos ver, de repente, ela fica mais feliz, realizada, mais bonita, mais tarada. Esperar. Ver no que vai dar. Afinal, é apenas uma terapia.
Pense no pior: ela poderia entrar para uma seita amazônica ou um grupo de teatro alternativo ou um movimento de extrema-direita ou um fã-clube de uma banda heavy metal.
Será que ela está pensando em se separar?! Claro! Mulheres fazem terapia antes do divórcio, para se certificarem!
"Gostou do filme?", ela perguntou no estacionamento.
"Não sei. E você?"
"Preciso discutir com o meu terapeuta."
"Boa. Será ético você me contar se ele gostou?"
"Não sei. Por que você não faz terapia também? Aí, terá com quem conversar."
Entraram no carro. Ela olhou pelo espelhinho, retocou a maquiagem, ajeitou os cabelos. Um novo brilho nos olhos. Uma voz macia, diferente. Está tão mais... sexy. Que merda.
Ele concluiu: ela já está apaixonada pelo cara. OK, vou fazer terapia também, pensou. Quem sabe o desgraçado não me indica uma terapeuta. Bem gostosa.

Um excelente 2012 a todos com muita Paz, Serenidade, Humanidade e CARPE DIEM...
Abraço afetivo a vocês,
Marcos.

CONTO: POLTRONA 35 de JÚNIOR MILÉRIO (COM ACENTOS, RS...)

Meu querido amigo Júnior escreveu o seguinte conto que compartilho abaixo com vocês. O conto é simples, de uma sensibilidade e delicadeza incríveis. Muito bom!!! 
"Por lo tanto: no se lo pierdan", como podemos dizer em discursividades hispânicas, rs...

Poltrona 35

As luzes de Natal ainda estavam lá. Era 25 de dezembro e o neon da decoração natalina, aos poucos, ia dando espaço ao neon dos letreiros de motéis de beira-de-estrada. Com licença, ele disse. E a resposta foi um semi-sorriso quase sem graça. No celular, pelo fone de ouvido a FM ia perdendo frequência, as rádios já misturavam música e chiado. Quem protagoniza na rodovia são os motéis, com os outdoors coadjuvando. Duas bolsas de viagem encaixadas debaixo das poltronas. 35 e 36. Um lia sobre comidas, hábitos franceses, cozinheiros. O outro.
O outro vestia bermuda, tinha a barba de, no máximo, dois dias. Uma tatuagem na panturrilha apareceu quando o olhar das páginas sobre culinária desviou para a perna que se levantou e cruzou sobre a outra, como num gesto felino. Quando o chiado do rádio prevaleceu nas ondas do rádio e a luz do fim-de-tarde deu lugar à noite, o livro fechou e cochilaram. Cochilaram separados pelo braço de plástico - cinza - que dividem poltronas em ônibus intermunicipais. Acordaram, o ônibus freava e parava e continuava. A estrada cheia era sinônimo do retorno de feriado mundial.
Entre um cochilo e um freio, propositalmente um braço encostou-se ao outro, do outro. Ficou ali, naquele estado de onde saíram tantas obras impressionistas. Impressionante! O calor da pele. Aliás. O calor dos pelos. De tão sutil, o calor dos pelos do braço do outro, nos pelos do braço de um. Foi isso. E alguns poucos quilômetros ficaram para trás. E adiante, ambas as pálpebras, dos dois, se abriram. Quase simultaneamente, se não fosse pela tentativa acertada de fingir simultaneidade. Os sentimentos simultâneos não têm nome.
Se os sentimentos simultâneos não têm nome, a palavra erótico ou sexual é simplista. Reduz e vulgariza. A força da sutileza de um movimento insinuante emprestou significados de palavras que poderiam se perder na possibilidade de não serem ditas, sequer ouvidas. A digital de um conheceu os pelos e o calor do outro, mas agora da perna que se alheava ao braço de plástico [cinza], mas agora ausente. Quase pode conhecer o desenho da panturrilha, se fosse em braile, também teria conhecido a alma.
À semi-luz-tão-romântica, os dois estavam a sós. Exceto pelas outras dezenas de poltronas ao redor. Um se atreveu a olhar no olho do outro, que também olhou dentro do olho de um. Olharam-se e se viram. Enxergaram-se. Vinte digitais, conhecendo calores e pelos, barriga, pernas e braços.Não, nenhum movimento mais brusco. Nenhum beijo. Nenhum pare. Nenhum flagra. Nenhum um. Eram dois.
A brincadeira de conquista silenciosa estava prestes a chegar ao fim. O destino era certo. O da viagem. Porque os caminhos dos dois estavam sendo desenhados em peles e pêlos. Mas um Criolo cantou não existe amor em sp. E, no destino da viagem, o caminho de um foi sair em silêncio. O do outro, daquele momento em diante, escolher - pra sempre - a poltrona 35.

Júnior Milério

Abraço literário a todos,
Marcos.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

ANDROGINIA? CONTEMPORANEIDADE? FIM DAS DICOTOMIAS? DEUSES? ANJOS?

O BÓSNIO-AUSTRALIANO ANDREJ PEJIC

DE MINHA PERSPECTIVA: RUPTURA DAS DICOTOMIAS... ILUSÃO DE LIBERDADE... NÃO ROTULAÇÕES... ASEXO...

















CONTEMPORÂNEO! LÚCIDO! GENIAL!

Abraço assexuado a todos, rs...
Marcos.

ACASO POR SÉRGIO TELLES

Acaso

26 de novembro de 2011
Sérgio Telles - O Estado de S.Paulo
Tememos o acaso. Ele irrompe de forma inesperada e imprevisível em nossas vidas, expondo nossa impotência contra forças desconhecidas que anulam tudo aquilo que trabalhosamente penamos para organizar e construir. Seu caráter aleatório e gratuito rompe com as leis de causa e efeito com as quais procuramos lidar com a realidade, deixando-nos desarmados e atônitos frente a emergência de algo que está além de nossa compreensão, que evidencia uma desordem contra o qual não temos recursos. O acaso deixa à mostra a assustadora falta de sentido que jaz no fundo das coisas e que tentamos camuflar, revestindo-a com nossas certezas e objetivos, com nossa apreensão lógica do mundo.
Procuramos estratégias para lidar com essa dimensão da realidade que nos inquieta e desestabiliza. Alguns, sem negar sua existência, planejam suas vidas, torcendo para que ela não interfira de forma excessiva em seus projetos. Outros, mais infantis e supersticiosos, tentam esconjurá-la usando fórmulas mágicas. Os mais religiosos simplesmente não acreditam no acaso, pois creem que tudo o que acontece em suas vidas decorre diretamente da vontade de um deus. Aquilo que alguns considerariam como a manifestação do acaso, para eles são provações que esse deus lhes envia para testar-lhes a fé e obediência.
São defesas necessárias para continuarmos a viver. Se a ideia de que estamos à mercê de acontecimentos incontroláveis que podem transformar nossas vidas de modo radical e irreversível estivesse permanentemente presente em nossas mentes, o terror nos paralisaria e nada mais faríamos a não ser pensar na iminência das desgraças possíveis. E nem é necessário imaginar grandes catástrofes, embora elas possam sempre ocorrer. Basta lembrar que nossa própria morte, ou a de um ente querido, pode ocorrer a qualquer instante, sem que nada possamos fazer para impedi-lo.
Entretanto, tem um tipo de homem que age de forma diversa. Ao invés de tentar fugir do acaso, como faz a maioria de nós, ele o convoca constantemente. É o viciado em jogos de azar.
O jogador invoca e provoca o acaso, desafiando-o em suas apostas, numa tentativa de dominá-lo, de curvá-lo, de vencê-lo. E também de aprisioná-lo. É como se, paradoxalmente, o jogador temesse tanto a presença do acaso nos demais recantos da vida, que pretendesse prendê-lo, restringi-lo, confiná-lo à cena do jogo, acreditando que dessa forma o controla e anula seu poder.
É o grande equívoco do jogador, como bem adverte Mallarmé no início de seu famoso poema "um lance de dados não abolirá jamais o acaso". É certo que os lugares onde se praticam os jogos de azar, como os cassinos, são espaços privilegiados onde o acaso é convocado e se faz presente, exibindo todo seu fascínio. Mas é uma ilusão pensar que ele ali ficaria retido, abstendo-se de atuar em outros domínios da vida, como gostaria o jogador.
O jogador leva às ultimas consequências essa forma de lidar com o acaso. Mas, em grau menor, todos nós fazemos algo parecido, todos temos um secreto "jogo de dados". Criamos situações específicas, nas quais concentramos nossa angústia, nossas fobias. Pessoas que têm medo de avião ou de elevador, por exemplo, pretendem circunscrever essas ocasiões à incidência do acaso (o acidente, a morte) e passam a evitá-las, acreditando com isso controlar sua ameaçadora e fortuita emergência.
A psicanálise mostra que o embate do jogador com o acaso, com o destino, é um eco da batalha edipiana, na qual o filho desafia o pai todo-poderoso da infância, tentando vencê-lo (matá-lo), ao mesmo tempo em que se oferece à imolação, expondo-se de forma masoquista ao castigo por tal ousadia, mergulhando na aposta que o põe em risco absoluto.
Através da psicanálise ficou evidente que muitas vezes nos julgamos vítimas do acaso sem nos apercebermos que, movidos por complexos sentimentos ocultos, como a culpa, inadvertidamente nós mesmos fabricamos aquelas situações que nos afligem. O acaso e o inconsciente, é claro, são categorias diversas e não confundíveis, mas provocam na mente consciente e racional semelhante efeito de estranheza.
O acaso tem papel relevante no excelente filme Um Conto Chinês, do argentino Sebastián Borensztein. Num recanto da China, um inacreditável acontecimento (supostamente ocorrido na realidade, como é mostrado no fim do filme, com os créditos) destrói os planos do jovem Jun. Em função disso, ele se traslada para Buenos Aires, onde termina por encontrar Roberto, um metódico comerciante de bairro preso a experiências traumáticas e a lutos impossíveis de elaborar. Mas o acaso, na figura do chinês, desmonta suas rígidas defesas obsessivas, trazendo Roberto de volta à vida.
Um Conto Chinês mostra as duas faces do acaso - o azar que se abate sobre Jun e a sorte que salva Roberto, o infeliz veterano da Guerra das Malvinas.
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O canadense Xavier Dolan, nascido em 1989, é uma das maiores revelações do cinema mundial. Aos 16 anos escreveu o roteiro de Eu Matei Minha Mãe, filme que interpretou e dirigiu e que, ao ser apresentado no Festival de Cannes de 2009, foi aplaudido de pé por oito minutos, ganhando o prêmio da Quinzena dos Diretores. Amores Imaginários, seu novo filme em cartaz, é uma lição sobre o narcisismo enquanto exigência voraz de ser amado incondicionalmente sem nada dar em troca, com toda a crueldade e sadismo nisso implicados. Se em Eu Matei Minha Mãe, Dolan estava mais interessado em contar uma história (com muitos traços autobiográficos), em Amores Imaginários a preocupação formal é mais evidente e bem-sucedida.
Grande abraço a todos,
Marcos.

ADEUS EM ESTILO SOVIÉTICO

Apesar de não ser a favor a regimes ditatoriais, a imagem do funeral do ditador norte-coreano Kim Jong-il é simplesmente fascinante. A massa de gente é de uma beleza inenarrável...


Grande abraço a todos,
Marcos.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Saudade da Boa + Espumas ao Vento

LINDO, SIMPLESMENTE LINDO...



SAUDADE DA BOA+ESPUMAS AO VENTO, CHICAS

Quando penso em você
Meu olhar se enche d'água
Não tenho um pingo de mágoa

É só saudade da boa
Que fica
Da lembrança de um beijo
Do abraço
Que ninguém me deu igual
Da noite que valeu por todas
Que eu vivi
O tempo foi passando
E eu fiquei
Por todos os amores
Onde andei,
Tentei, mas nunca deu pra esquecer de ti

Ai! ai! meu coração
Passa dia mês e ano
E eu não consigo te esquecer
Ai! ai! meu coração
Ainda bate apaixonado
Com saudade de você

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Sei que aí dentro ainda mora um pedacinho de mim
Um grande amor não se acaba assim
Feito espumas ao vento

Não é coisa de momento, raiva passageira
Mania que dá e passa, feito brincadeira
O amor deixa marcas que não dá pra apagar

Sei que errei, eu tô aqui pra te pedir perdão
Cabeça doida, coração na mão
Desejo pegando fogo

Sem saber direito a hora nem o que fazer
Eu não encontro uma palavra só pra te dizer
Mas se eu fosse você eu voltava pra mim de novo

De uma coisa fique certa, amor
A porta vai estar sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora que você chegar

De uma coisa fique certa, amor
A porta vai estar sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora que você chegar

Sei que errei, eu tô aqui pra te pedir perdão
Cabeça doida, coração na mão
Desejo pegando fogo

E sem saber direito a hora nem o que fazer
Eu não encontro uma palavra só pra te dizer
Mas se eu fosse você, amor, eu voltava pra mim de novo

De uma coisa fique certa, amor
A porta vai estar sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora que você chegar

Mas de uma coisa fique certa, amor
A porta vai estar sempre aberta, amor
O meu olhar vai dar uma festa, amor
Na hora que você chegar 

Abraço melancolisamente alegre a todos,
Marcos.

MEDOS E CRENÇAS DE NATAL (OU 3 CENAS DE ANO-NOVO)

Apesar de eu fazer exercícios físicos, concordo com o dito pelo Eugênio Bucci, ou melhor, lucidez e das boas, rs... 

Medos e crenças de Natal (ou 3 cenas de ano-novo)

Eugênio Bucci, jornalista, é professor da ECA-USP e da ESPM - O Estado de S.Paulo
Cena 1.
Na Rua Cerro Corá, esquina com a São Guálter, uma gigantesca vitrine atropela a visão dos passageiros de ônibus e automóveis. À noite, ela brilha feito uma supertela de cinema em três dimensões. Lá dentro, dezenas de homens e mulheres, aparentemente jovens, transpiram e trepidam em cima de esteiras elétricas. Ali funciona uma academia de ginástica, toda envidraçada.
A luz intensa do salão de exercícios, refletida no suor dos corpos, delineia os bíceps subindo e descendo, o vaivéns sincronizado de braços e pernas, as saboneteiras femininas, as fitas multicoloridas a prender os cabelos de quem os tem. A mercadoria oferecida na vitrine viva é a saúde corporal, essa combinação variável entre vitalidade, vigor, forma física, beleza plástica e disciplina militar. Às vésperas do ano-novo, é um convite à mudança de hábitos para os sedentários que estejam passando por ali. 2012 vai começar, é tempo de beber menos, fumar menos, sofrer menos e malhar mais. Não há quem passe por ali sem considerar o desejo de fazer parte daquela sensualidade muscular em exibição noturna.
As academias de ginástica vendem a imagem dos corpos dos clientes atuais aos potenciais clientes futuros, prometendo transplantar os primeiros nos segundos. Lá dentro, a gente pode comprar um novo corpo a prestações. Correndo sem sair do lugar, como os modelos vivos na vitrine, a gente chegará ao idílio do vigor físico e da beleza. É, de fato, intrigante. Dentro da vitrine, a relação entre esforço e movimento é contraditória. Os clientes ali correm, transpiram, ofegam e não avançam um único centímetro. Na rua, a gente vive o mesmo paradoxo, mas com o sinal invertido: sentados no carro (ou no circular), nós não movemos um músculo, mas andamos.
O que pretendem os atletas da vitrine? Fugir da velhice, talvez? Nós tememos a velhice, talvez mais do que o abandono, e olhamos para aquela vitrine pensando no refrão típico desta época de festas: eles têm "saúde para dar e vender". Talvez a gente possa comprar um pouco dessa saúde toda. Sonhando com isso, a gente exorciza o pavor de encarquilhar um dia. E promete muito suor para o ano que entra. A gente promete que, no ano que entra, vai correr muito sem sair do lugar.
Uma das definições de neurose é justamente esta: queimar energia psíquica sem fazer movimento real nenhum, como um parafuso girando em falso. A academias são equipadas com esteiras cuja função primordial é produzir passos em falso - e nós, os sedentários com a cabeça cheia de problemas e de medos, suspiramos de desejo por elas.
Cena 2.
A Cerro Corá é um prolongamento indireto e longínquo da Avenida Paulista, o festejado cartão-postal da cidade de São Paulo, que acaba de ser tomado pelas multidões. Não se trata de uma passeata de estudantes, que essas já não reúnem quase ninguém. Não se trata da São Silvestre, que essa vai ser desviada. Não se trata, ainda, de uma filial paulistana do movimento "occupy" isso e mais aquilo, que já "ocupou" a Praça Tahrir, no Cairo, as ruas de Barcelona e até mesmo Wall Street, em Nova York. A Paulista ficou superpovoada de transeuntes que não querem protestar contra coisa nenhuma: eles foram até lá para ver Papai Noel. Os taxistas reclamam. O lugar está intransitável até as 2, 3 horas da manhã. A avenida está repleta de povo, como diziam os editoriais de antigamente.
Sede de bancos triliardários, a Paulista fantasiou-se de árvore de Natal, com luzinhas que piscam e repiscam em cascatões faraônicos, bonecos descomunais que se movem como brinquedos de pilha, canções gingolbélicas emanando do concreto. As multidões afluem, em romaria. Parecem crer que da especulação financeira emergirá o espírito natalino, que o dinheiro vai emular o congraçamento universal.
Em 1843, Charles Dickens escreveu Um Conto de Natal, uma de suas obras mais famosas. O protagonista de Dickens é o senhor Scrooge - que inspirou o Tio Patinhas de Walt Disney -, um adorador do vil metal, insensível e sovina, que, depois de ser apavorado pelos fantasmas do castigo eterno, descobre o gozo da caridade e vira um Papai Noel compulsivo.
Os peregrinos da Avenida Paulista reeditam o mito de Scrooge. Talvez creiam em almas boas de banqueiros arrependidos. Na Paulista destes dias natalinos, a humanidade passeia de mãos dadas. Pede de presente um pouco de compaixão, embora saiba que a banca não lhes dará descontos no extrato de dezembro. A caridade também pode ser uma forma de neurose, para quem dá e para quem recebe. Para os que têm "muito dinheiro no bolso" ela aplaca o medo da fogueira do inferno. Para os que nada têm ela aplaca o medo da miséria.
Cena 3.
Num campo intermediário entre a Cerro Corá e a Paulista, estendem-se as lápides cafonas do Cemitério do Araçá, na Avenida Doutor Arnaldo. O fluxo de caixões não dá trégua. As guerras admitem o armistício de Natal, mas a morte não dá descanso aos coveiros, de tal sorte que, a meio caminho entre os banqueiros fantasiados de Papai Noel e os corpos atléticos em exposição na vitrine, viúvas e órfãos choram diariamente no Araçá.
O lado bom das neuroses é que elas têm um fim: o túmulo. Numa entrevista concedida a George Sylvester Viereck em 1926, na sua casa de verão em Semmering, nos Alpes austríacos, Sigmund Freud, já septuagenário, falou: "O desejo derradeiro da vida é a sua própria extinção". Não apenas seguimos para a morte, como, de acordo com Freud, nós a desejamos. "O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo", disse ele.
Entre o culto do corpo impossível e a celebração do capital caridoso, a gente corre em falso atrás de luzinhas coloridas, para nunca se lembrar do recado escuro do Araçá, o lugar onde Papai Noel não existe.
Não obstante, feliz 2012.
Enorme abraço a todos,
Marcos.


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

RYAN GOSLING

Ontem, assisti ao filme "Tudo pelo Poder" (The Ides of March) de George Clooney. Filme corretinho, bonitinho, -inho a respeito da perda das ilusões... Perder as ilusões é bom... YO, ME LAS PERDÍ HACE TANTO TIEMPO... EN LA UNIVERSIDAD...

Bom... mas postarei fotinhas do lindim, do mocim, do bom mocim gostosim Ryan Gosling... Deleitemo-nos, rs...

 





















Lo que siente la mujer...
Lo que siente el hombre...
Lo que siente la gente...
Lo que siente uno...
Lo que siente...

Um abraço hispânico a todos, rs...
Marcos

DIANE ARBUS - PARTE II

Agora a melhor parte... suas imagens/fotografias...

































FREAK? ABSOLUTELY NOT!!!
LUCIDEZ... E LUCIDEZ DAS BOAS...

Abraço lúcido a todos,
Marcos.

DIANE ARBUS - PARTE I

Hoje, 27 de dezembro de 2011, saiu a seguinte reportagem acerca da fotógrafa Diane Arbus. Reproduzo-a porque vale a pena lê-la.

Mostra em Paris faz retrospectiva da obra de Diane Arbus

Da foto de moda ao registro dos excluídos sociais, fotógrafa virou a América de ponta-cabeça


ANTONIO GONÇALVES FILHO, PARIS - O Estado de S.Paulo
Quem pretende passar por Paris até o dia 5 de fevereiro deve reservar um par de horas para ver a exposição Diane Arbus (1923- 1971) no Jeu de Paume (Place de La Concorde, 1). É a primeira retrospectiva francesa feita sobre a fotógrafa americana, que provocou uma revolução estética nos anos 1960 ao eleger como modelos preferenciais não as divas que fotografava para as revistas de moda, mas pessoas comuns, portadores de defeitos físicos, gente com problemas mentais, travestis, nudistas e freaks.
O escritor americano Norman Mailer (1923-2007), pouco antes de Diane Arbus se matar - em 1971, tomando barbitúricos e cortando os pulsos -, fez uma declaração sarcástica sobre seu trabalho que remetia a uma de suas mais conhecidas imagens, justamente a foto maior que ilustra esta página: "Dar uma câmera para Diane Arbus é como colocar uma granada nas mãos de uma criança".
Diane Arbus, curiosamente, viu uma criança com uma granada (de brinquedo) nas mãos no Central Park, Nova York, em 1962. O garoto chamava-se Colin Wood e sua tensa expressão facial revelava um distúrbio maníaco qualquer. À primeira vista, a imagem choca. Susan Sontag escreve em seu ensaio Freak Show ( 1973) que falta mesmo beleza em suas fotos, "incapazes de comover o espectador", segundo a ensaísta americana.
Não era mesmo o propósito da fotógrafa, como se lê nas páginas de seu diário exposto na mostra parisiense, que traz, além de câmeras e objetos pessoais, mais de duas centenas de imagens que cobrem toda a sua carreira. Sua audácia, como disse a curadora da mostra, a catalã Marta Gili, foi justamente a de tornar familiar aquilo que nos parece estranho e transformar o exótico em familiar.
É curioso observar a reação dos visitantes da retrospectiva no Jeu de Paume. Há um silêncio solene, respeitoso, diante de fotos - como a de um travesti com bobs na cabeça em sua casa, de um gordo senhor dominado por uma prostituta sádica ou mesmo de um grupo de deficientes mentais com máscaras de carnaval.   
Tais imagens, defende a curadoria da mostra, abrem novas perspectivas ao entendimento que temos de nós mesmos, pois são os defeitos que nos tornam singulares. E Diane Arbus deixou o mundo da moda - onde começou a carreira fotografando para revistas comoVogue e Harper's Bazaar - para fotografar os deserdados e deslocados da América, ela que veio de uma família rica (seu pai era dono da Russek's, loja da elegante Quinta Avenida) e trocou o conforto pela rua e por uma Rolleiflex.
Nascida Diane Nemerov (seu sobrenome judeu), em Nova York, a fotógrafa começou a carreira nos anos 1940 ao lado do marido Alan Arbus, que trabalhava no setor de publicidade da loja do pai da mulher. Desde que os dois formaram uma agência de fotografia de moda, em 1946, a fotógrafa parecia menos interessada em modelos que nas imagens de Walker Evans feitas durante a Depressão, quando ele percorreu a zona rural americana atrás de famílias pobres. Diane decidiu, então, ao ganhar uma bolsa da Guggenheim em 1963, dar um rosto e uma identidade à classe média americana, fotografando concursos de beleza, festas de casamento e campos de nudistas em New Jersey.
O freak show só viria mais tarde, nos anos 1970, quando, convidada pelo grupo Time-Life para fazer uma grande reportagem fotográfica da América subterrânea, fotografou casais nada ortodoxos, como uma velha senhora com um macaco em roupas de esquiador ou gêmeos vivendo juntos há 60 anos. Essa fotos provocaram repulsa e, ao mesmo tempo, atraíram a atenção dos críticos. Diane foi a primeira fotógrafa americana a ter seu trabalho exibido na Bienal de Veneza, em 1972, um ano após sua morte.
A mostra italiana selecionou dez imagens que provocaram enorme impacto. Tanto que o Museu de Arte Moderna de Nova York promoveu sua primeira retrospectiva naquele mesmo ano.
As anotações da fotógrafa, reunidas na retrospectiva parisiense, revelam que ela sempre pediu autorização aos modelos - com a possível exceção dos nudistas e deficientes mentais. Os demais são fotografados invariavelmente de frente, evocando a construção formal de outro grande fotógrafo, o alemão August Sander (1876-1964). A diferença entre os dois fica nítida, porém, na abordagem. Sanders tinha um interesse mais sociológico, enquanto Diane Arbus fazia antropologia contemporânea, explorando o árido terreno entre aparência e identidade para mostrar como a realidade americana tem algo de teatral - um freak show que beira o do clássico filme Monstros (Freaks), de Tod Browning, inspirador da fotógrafa. "Muitas pessoas passam pela vida temendo uma experiência traumática", escreveu. "Os freaks, ao contrário, já nascem traumatizados", concluiu.
Abraço a todos,
Marcos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

POESIA DE LEE CHANG-DONG

Apenas hoje, 25 de dezembro, consegui assistir ao magnífico POESIA de Lee Chang-Dong.
Filme de uma sensibilidade extraordinária e nos revela como com uma questão absolutamente simples é possível um grande diretor fazer um brilhante filme. Dito de outra forma: roteiro impecável, direção fantástica e a doação/entrega de Yoon Hee-jeong é absurdamente genial. E o poema que "fecha/abre" o filme é de uma sensibilidade monstruosa... Como um pouco de poesia e simplicidade é bom para nossas míseras vidinhas.





'Poesia', o filme sul-coreano premiado em Cannes

Produção de Lee Chang-dong é um dos destaques da 34.ª Mostra Internacional de Cinema de SP

Luiz Carlos Merten - Estado de S. Paulo
Lee Chang-dong considera que foi decisivo o ano em que foi ministro da Cultura da Coreia. Ele não apenas se confrontou com a diversidade da produção cultural de seu país, como teve de atender a demandas, polemizar sobre o que estava sendo feito. Quando voltou à direção, sentiu-se inseguro como nunca na vida. Com medo de errar a mão, fez o filme mais simples que podia, e escreveu um roteiro tão detalhado que mais parecia um romance. Secret Sunshine era sobre uma mulher que perdia o marido e, depois, o filho e buscava apoio na religião para a sua dor imensa. Chang-dong ganhou o prêmio de roteiro em Cannes, neste ano, pelo belíssimo Poetry (Poesia).
Outra mulher - uma avó - vela pelo neto suspeito de violar garotas. Ela sofre do Mal de Alzheimer e busca nas palavras, na poesia, uma forma de retardar o esquecimento, driblando sua morte em vida. Chang-dong encontrou-se com a reportagem do Estado no Festival de Cannes. Estava feliz com a recepção a seu filme - a entrevista foi feita antes da premiação. Por Secret Sunshine, ele já havia sido premiado em Cannes - melhor atriz. Se houvesse novo prêmio para ele, Chang-dong esperava que fosse de novo o de interpretação feminina.
Yoon Hee-jeong, que faz a avó de Poetry, tem mais de 300 filmes no currículo. É uma estrela de seu país, mas há 15 anos ela não filmava. O que Chang-dong fez para convencê-la a voltar ao cinema? "Escrevi Poetry especialmente para ela, que ficou lisonjeada. Quando leu o roteiro, ficou fascinada, não apenas pela personagem, mas também pela precisão da escrita. Tudo estava ali previsto e detalhado. Gosto de fazer assim. É a forma como me sinto livre para mudar tudo no set. Mas as coisas não foram simples para Yoon. Quando ela filmava muito, a sincronização era diferente, feita na maioria das vezes a posteriori, em estúdio. Foi preciso que ela se adaptasse a um novo estilo de filmagem. Mas Yoon não é uma estrela. É muito humana, e foi um prazer para toda a equipe tê-la no set. Virou uma espécie de avó da equipe, preocupada com todos e com cada um."
Reflexões. A entrevista é feita com tradutor. Cada pergunta demora um tempão para ser formulada. As respostas demoram mais ainda. Chang-dong é reflexivo, olha nos olhos do entrevistador. Secret Sunshine olhava o mundo do ângulo das vítimas, Poetry talvez se construa do ângulo dos familiares dos carrascos. Ele diz que não pensou assim. "O que m e atrai é o ser humano. Carrascos ou vítimas, nós nunca somos só uma coisa. A natureza humana é complexa e, como artista, tenho a impressão de que minha função é iluminá-la. Filme para conhecer o outro e a mim mesmo."
O tema da doença é essencial em Poetry. O Mal de Alzheimer tem aparecido com frequência no cinema. O repórter insiste na definição de ‘morte em vida’. Chang-dong diz que a ligação da personagem com as palavras - poesia - faz parte de um movimento íntimo. "Dando novo sentido às palavras, ela busca preservá-las, e o que representam, do esquecimento." É filme belo e contemplativo. Serve à poesia e ao cinema. À poesia do cinema?

Abraço afetivo a todos,
Marcos.